segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Vereadores e cidadãos reclamam do tempo de espera por cirurgias eletivas



A demora na realização de cirurgias eletivas foi tema de audiência pública realizada nesta quinta, 26, no Plenário do Legislativo. A inciativa foi da Comissão de Saúde da Câmara, integrada por Patrícia Beck (PTB), presidente, Cristiano Coller (PDT), secretário, e Jorge Tatsch (PPS), relator. A mesa foi composta pelo presidente da Casa, Enfermeiro Vilmar (PR), pela secretaria Suzana Ambros Pereira e pelo presidente do Sindicato Médico de Novo Hamburgo, Kleber Fisch.

Na abertura, Patrícia, que é presidente do grupo de trabalho, enfatizou que tanto vereadores quanto cidadãos estão em busca de respostas. “Somente o meu gabinete e o do vereador Sergio já contabilizaram 97 pessoas esperando cirurgias eletivas. Por isso, queremos saber o que está sendo feito para reduzir a espera.” Ela citou dados referentes a 2014 e alegou não ter sido respondido requerimento enviado ao Executivo, no qual solicitou os números atualizados. Fez, ainda, uma série de questionamentos à titular da Saúde.

A secretária Suzana apresentou os dados do Município quanto a investimentos na área, os serviços oferecidos e as cirurgias realizadas nos últimos dois anos. Segundo ela, é preciso de uma solução em nível regional porque a cidade não consegue atender toda a demanda. A gestora explicou que nos últimos anos houve um incremento na estrutura, especialmente na Estratégia de Saúde da Família, o que reflete em um aumento do número das patologias que devem ser resolvidas por meio de procedimentos eletivos. Conforme os dados apresentados, em 2014, foram feitas 3.972 intervenções eletivas. De janeiro a agosto de 2015, houve 2.648 procedimentos realizados em Novo Hamburgo, mais 1.379 feitos em outras cidades, totalizando 4.106 cirurgias. Atualmente são 3.622 pacientes na lista de espera, sendo 2.185 para Novo Hamburgo e o restante que precisam ser encaminhados a outros municípios. Suzana explicou que cirurgias vasculares, por exemplo, são enviadas a Porto Alegre. Porém, a administração estuda fazer um mutirão para realizar, no início do próximo ano, cirurgias de varizes periféricas. Outros procedimentos, segundo ela, hospital e Município não estão credenciados a realizar. “Temos uma demanda imensa de pacientes para cirurgias ortopédicas, que necessitam de próteses, porque não fazemos esses procedimentos de alta complexidade. Para muitas cirurgias não há profissionais especializados que atuem pelo SUS, pois os valores estão abaixo do mercado”, frisou.

O presidente do Sindicato Médico, Kleber Fisch, definiu como descaso a atenção dispensada pela União à saúde nos últimos anos. “Há uma dívida enorme com as instituições que prestam serviços na área, além de anúncio de cortes nos repasses para o próximo ano.” De acordo com ele, hoje existem muitos programas e não há uma preocupação em contratar médicos. Ele se disse indignado quando alegam falta de profissionais. “Há médicos sobrando, em todas as especialidade. O problema é que não querem pagar. Não queremos cobrar um preço exorbitante, mas o valor do SUS é inviável. Tenho certeza de que vários médicos atenderiam pelo valores pagos pelos planos de saúde.” O sindicalista considera ainda que a saúde está muito focada na reorganização estrutural e pouco no paciente.
A diretora da Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo, Simone Zucolotto, afirmou que a estimativa para este ano é ultrapassar os 3 mil procedimentos cirúrgicos, sendo apenas 40% realizados em casos de urgência. Ela afirmou que a fundação paga três vezes a tabela SUS para procedimentos em traumatologia. Como ações de curto prazo para solucionar a questão, citou o aumento do número de leitos, ampliação do quadro médico e de enfermagem, adequação do Centro de Material Esterilizado, ampliação do enxoval/rouparia, remuneração variável. A médio prazo, a reforma do bloco cirúrgico, que já está com licitação realizada.
Maria Luiza Moraes, titular da primeira coordenadoria regional de saúde, afirmou que 55% das consultas são encaminhadas a Porto Alegre, e confirmou a enorme demanda em traumatologia e oncologia. “Estamos avaliando junto à secretaria de Estado melhorar o atendimento nessas duas áreas.” Aline Girsh, coordenadora da Associação Congregação de Santa Catarina – responsável pelo Hospital Regina, o Hospital São José, em Ivoti, e o Hospital Sagrada Família, em São Sebastião do Caí, informou que a entidade já está em tratativas como o Executivo para que o Município possa ampliar o encaminhamento dos casos de média complexidade ao hospital de Ivoti.

Fala dos vereadores
Sergio Hanich (PMDB) afirmou que 95% das pessoas que atuam na saúde é por vocação. Segundo ele, o seu gabinete registrou 72 demandas que estão desde 2013 sem atendimento. O vereador criticou o fato de que as pessoas que precisam buscar seus direitos na Justiça têm que levar três orçamentos, tendo que arcar com o valor de consultas particulares para conseguirem os laudos.

Para Raul Cassel (PMDB), o assunto é recorrente aqui na Câmara porque as pessoas procuram os vereadores querendo que eles as ajudem de alguma forma, quando já não têm mais esperanças. “Temos que esclarecer que essas cirurgias não são opcionais. Elas são necessárias para resolver problemas que podem não trazer risco de morte, mas geram dor e muitas vezes dificuldades laborais e de locomoção.” Considerou ainda como desperdício a quantidade de consultas recorrentes de pacientes que poderiam ter sua enfermidade sanada com uma cirurgia simples. “Fora os casos em que há perda de documentos ao longo do processo e a pessoa tem que ir para o fim da fila”.

Patrícia Beck afirmou que os números apresentados não condizem com a realidade. “Só as demandas recebidas pelos vereadores já superam as estatísticas apresentadas pela secretaria em diversas especialidades.” A vereador questionou o contrato firmado com a FSNH para a realização desse tipo de procedimento. Suzana explicou que para a realização das cirurgias deve haver leitos disponíveis, uma vez que elas podem ter complicações. A secretária ressaltou que o estado tem uma dívida de R$ 17 milhões com o Município, que por sua vez tem atrasado repasse a fornecedores. Mesmo assim, o serviço não foi reduzido. “Canoas optou por fechar 70 leitos. Hoje, informou Suzana, foram garantidos os repasses mensais por via judicial. Ela afirmou ainda que a União não tem dívidas com Novo Hamburgo. Porém, reduziu os valores disponíveis para os programas e compra de equipamentos. “Sou médica, sei dos sofrimentos dos usuários. Por isso, fico chateada quando dizem que o gestor não quer resolver.” Quanto ao contrato com a fundação, disse que há uma comissão que analisa a prestação de contas da entidade. “O contrato é de prestação de serviço como um todo e não por número de procedimentos realizados. Se fosse assim, nós deveríamos valores à fundação.”

Cristiano Coller (PDT) citou as inúmeras pessoas que estão afastadas do trabalho, aguardando por uma cirurgia. Lembrou que, na maioria das vezes, o gasto da previdência é muito superior ao custo do procedimento.

Vilmar perguntou como é feito o controle dos usuários que vem de outros municípios. Segundo a secretária, o controle é bastante difícil, pois tem um número significativo de pessoas que se utilizam de endereço de familiares para fazer o encaminhamento por Novo Hamburgo.

Jorge Tatsch (PPS) informou uma reclamação de funcionários do hospital que, em caso de problemas de saúde, não podem ser atendidos na instituição. Suzana explicou que eles recebem a mesma classificação de risco dos demais usuários. Por isso, em casos que não são de urgência, devem procurar o atendimento básico.

Fala dos Cidadãos

Conforme prevê o Regimento Interno, foi aberto espaço ao pronunciamento da comunidade. Diversos usuários relataram casos pessoais e de familiares da longa espera por uma cirurgia eletiva. Os participantes também fizeram uma série de questionamentos às autoridades municipais e estaduais.

Fonte: CMNH

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